Homília Pe. Volantino - Tríduo de São Francisco | 3º dia | 03/10/2025
- Sorella Clara M. C.
- 6 ott
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Tradução em português:
Bem, caríssimos irmãos e irmãs, hoje chegamos à conclusão do tríduo em honra de São Francisco de Assis, e falaremos, como já havíamos anunciado, das chagas, da morte de Francisco, de sua canonização e dos frutos que perduraram ao longo dos séculos. Espero ser hoje um pouco mais breve, para que possamos ir embora despertos e contentes. Comecemos, então, pelas chagas de São Francisco.
Há um trecho que me vem à mente, de São Paulo, quando diz: “Fui crucificado com Cristo; já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim”. Isso se realizou plenamente em São Francisco de Assis, a ponto de ele ter recebido o título de Alter Christus, ou seja, “outro Cristo”. É também significativo recordar o que dizia o Papa Bento XV: São Francisco nada seria sem Jesus. Por isso, não devemos confundir nem igualar. Francisco é santo porque seguiu, imitou e se esforçou por imitar em tudo a Jesus. A sua “fixação”, o seu pensamento constante — os seus “cravos” — eram estes: imitar Cristo em cada palavra e gesto, com simplicidade e humildade, e com um amor ardente pela pobreza.
Francisco recebeu os estigmas por volta da festa da Exaltação da Santa Cruz, no dia 17 de setembro de 1224, dois anos antes de sua morte. E como recebeu essas chagas? Também aqui, como já vimos nos dias anteriores, a vida de Francisco é repleta de manifestações divinas — sonhos, visões, sinais.
Nesse caso, enquanto se encontrava no Monte Alverne, retirado para viver quarenta dias de oração em honra de São Miguel Arcanjo, ele viu um serafim com seis asas — duas sobre a cabeça, duas sobre o corpo e duas mais abaixo. Viu, então, esse serafim portando os sinais da Paixão de Cristo, refletindo a própria imagem de Jesus crucificado. As fontes franciscanas narram que, após o diálogo com esse serafim — que representava e talvez fosse o próprio Cristo —, Francisco, ao recobrar os sentidos da visão, percebeu em si os sinais da Paixão: as mãos e os pés trespassados e o lado ferido. Algumas fontes afirmam que se viam claramente as cicatrizes abertas; outras relatam que os cravos pareciam formados de carne. Mas, de todo modo, as mesmas fontes franciscanas asseguram que esses detalhes não alteram a veracidade histórica do acontecimento: Francisco foi o primeiro homem, depois de Jesus, a receber os estigmas como um selo do alto — assim como o Papa selou a Regra de Francisco, Cristo selou o seu corpo, porque ele viveu verdadeiramente o Evangelho e se humilhou profundamente. Foi tamanha sua humildade e semelhança com Cristo, que mereceu o título de Alter Christus.
Quando Francisco recebeu essa visão e os sinais sagrados, procurou escondê-los, pois recordava uma passagem do livro de Tobias, que dizia com frequência: “É bom guardar o segredo do rei”. Por isso, cobria as mãos, tanto por humildade quanto por desejo de conservar o segredo. Mas havia um irmão chamado Frei Iluminado — e as fontes afirmam que o nome lhe cabia bem, pois era realmente um homem iluminado. Ele disse a Francisco: “Atenção! Se guardares este dom apenas para ti e não o revelares, ao menos aos irmãos mais próximos, acontecerá contigo o mesmo que na parábola do talento, daquele homem que o escondeu debaixo da terra e foi depois repreendido por Cristo”.
Então, diante dessas palavras do Evangelho, Francisco abriu o coração e mostrou a poucos esse singular selo das chagas — mostrou apenas a alguns irmãos —, mas procurava mantê-las sempre escondidas, porque repetia continuamente aquele trecho do livro de Tobias. E me vem à mente também a passagem de Jesus no Evangelho de hoje: “Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelaste essas coisas aos pequeninos.” Os “pequeninos” que estavam ao lado de São Francisco — ás vezes chamados nas fontes franciscanas de “pequenos frades”, isto é, eram irmãos "pequeninos" — eram os pequenos do Evangelho, aqueles de quem Jesus disse: “Se não vos fizerdes como crianças...” Porque as crianças perguntam: “Mamãe, por que isso?” “Papai, por que aquilo?” Assim também nós devemos dizer: “Senhor, faz-me compreender; não entendo, sou pequenino.” E o Senhor, então, te faz compreender o caminho, te faz entender como imitar Cristo.
Quando os frades mais próximos de Francisco procuravam cuidar dele e tratar das suas chagas, pois precisavam lavá-lo. As fontes relatam que todo o hábito e até a roupa de baixo estavam encharcados de sangue. Ao lavarem Francisco, o sangue escorria, e nesse mesmo tempo — contam as fontes — um cidadão de Rieti teve um sonho: viu que devia ir até os frades, embora não entendesse o motivo. Esse homem, que era agricultor e possuía muitos animais, sentiu-se impelido pelo Espírito e, ao chegar, pediu aos frades a água suja com a qual haviam lavado os sinais da paixão de São Francisco. Com apenas uma gota dessa água que tocasse as vacas ou qualquer animal doente, eles ficavam curados.
Assim começaram logo os milagres, os sinais — pois “milagre”, do grego semeion, significa “sinal” —, que continuavam a acompanhar os prodígios de Francisco.
Outro milagre narrado nas fontes: certa vez, Francisco viajava com um frade e, ao cair da noite, fazia um frio intenso, de modo que não podiam mais caminhar. O frade vestia um hábito leve e estava morrendo de frio. Francisco, inflamado pelo Espírito, pelo fogo de Deus, impôs-lhe a mão — e o frade, tomado também pelo mesmo ardor, passou a noite inteira aquecido, sem sofrer o frio.
Por fim, nas redondezas do Monte Alverne caiu uma tempestade de granizo tão forte que destruiu muitos frutos e ameaçava arrasar toda a colheita. Então, pediram a intercessão de Francisco, e a tempestade cessou; os frutos foram preservados. Esses “frutos” me recordam — e não por acaso, ou melhor, pela providência — o tema do nosso último dia do tríduo: quais são os frutos que Francisco deixou? Quais são os frutos que ele produziu depois de ter sido “crucificado com Cristo”? Depois de oitocentos anos, o que vem à mente? Quais são os frutos de Francisco? Há os frutos das vocações e das conversões. Quantos frades, quantas irmãs, quantos leigos da Ordem Terceira Franciscana, quantos de nós que hoje celebramos a festa de São Francisco! Quantos jovens deixaram tudo para seguir Jesus por meio do exemplo de Francisco! Ele era diácono. Quantos sacerdotes franciscanos existem — aqui estão dois, três, e assim por diante!
Se todos nós procurássemos imitar o espírito e o amor apaixonado de Francisco por viver o Evangelho, os frutos apareceriam.
Porque o que acontece? Rezamos muito pelas vocações, mas depois nos queixamos de que elas não vêm. Certa vez, lendo o Evangelho — aquele mesmo que foi o “forte” de Francisco, o mais forte de todos —, aquele que diz que ele andava pelas estradas sem nada, sem ouro, sem prata, sem alforje, sem duas túnicas, pobremente… isso que gerou até a dificuldade da aprovação da Regra.
E um dia, lendo esse mesmo Evangelho, deparei-me com a passagem: “Rogai, pois, ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe, porque a messe é grande e os operários são poucos.” Então me perguntei: “Mas, Senhor, como devemos rezar para que venham realmente esses operários? Rezamos tanto, tanto… e, no entanto, eles não chegam!”
Algo me impelia a continuar lendo o Evangelho. Eis como rezar: “Eu vos envio como cordeiros em meio a lobos.” - com mansidão - e depois "não levem nada", - em modo desapegado. O desapego...
Quais são, então, os frutos que Francisco nos deixou? Também os frutos da meditação. E quais são esses frutos da meditação que ele nos legou?
Ele nos ensinou — como dissemos antes — como Deus fala. Se prestamos atenção à sua vida, às suas orações, às suas respostas. A paz entre os povos e entre as religiões, o diálogo inter-religioso, o diálogo corajoso com um muçulmano — a mesma coragem de Cristo, que, não tem medo de morrer, ou que mesmo a temendo, a enfrentou. O amor a Deus, o amor aos homens, o amor aos animais, o amor à criação. Parece pouco o que digo, mas em cada uma dessas pequenas coisas há uma grandeza imensa.
Francisco de Assis morreu numa noite como esta, em 3 de outubro de 1226. A sua festa litúrgica se celebra amanhã, 4 de outubro, e será o bispo quem virá concluí-la. Eu fiz a minha parte, um pouco como um João Batista, e o bispo — o pastor da diocese — selará esta celebração com algo mais inspirado, porque estou certo de que a graça do seu estado é muito poderosa.
E há uma última coincidência que diz respeito à nossa comunidade dos Pequenos Frades e Pequenas Irmãs: nós trazemos o escapulário e o Tau. Sempre senti dentro de mim esse duplo chamado: ao Carmelo e a Francisco. O Carmelo, pela contemplação, pela oração, pelo retiro. É preciso conhecer aquilo que vais dizer — deves aprofundar, estudar, meditar, rezar. Porque, se não conheces, quando falas, acabas causando dano; se falas sem fundamento, dizes tolices.
O Carmelo — Carmel — significa “jardim de Deus”. Santo Agostinho dizia que, por “jardim de Deus”, por “montes e ervas verdes”, devemos entender os montes da Sagrada Escritura. Quem não conhece as Escrituras, o que irá pregar? Se São Francisco não as conhecesse, o que poderia dizer? Por isso, esses frutos — o conhecimento da Palavra e a sua prática — fizeram de Francisco não apenas um conhecedor, mas o que ele fazia? Ia pelas estradas. Assim, o espírito carmelitano e o franciscano se unem: Carmelitano, como Jesus no Horto das Oliveiras. Franciscano, como Jesus na Galileia das gentes, como quando encontra os discípulos de Emaús e lhes explica a Palavra pelo caminho; É como respirar: primeiro inspira-se — coloco pra dentro —, depois expira-se — coloco pra fora. Assim, Carmelo e Francisco.
Sabem quando São Francisco de Assis foi canonizado? — eu mesmo não sabia. Foi em 16 de julho de 1228, por obra do Papa Gregório IX, no dia de Nossa Senhora do Carmo. Descobri isso recentemente. E sabem quando nasceu Santa Clara? Em 16 de julho de 1194. Vejam essas singulares pequenas Deus-incidências — que nos confirmam que, sem oração, sem contemplação, sem aprofundamento, não se pode anunciar absolutamente nada. Assim como um médico, se não estuda bem antes de operar a apendicite ou o coração, se erra, vai para operar a apendicite mas acaba tirando o coração à pessoa, pode matá-lo em vez de ajudá-lo.
Que o Senhor nos conceda a graça de conhecer as Escrituras como São Francisco de Assis e, sobretudo, de ter o “cravo fixo” — como dizia Dom Eugênio — de ter como Santa Rita, o cravo fixo na cabeça, nas mãos, nos pés e no coração: o desejo de viver o Evangelho. Quem a trinta, quem a sessenta quem ao cem.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
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