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Homília Pe. Volantino - Tríduo de São Francisco | 2º dia | 02/10/2025


Tradução em português:

Bem, caríssimos irmãos e irmãs, neste segundo dia do tríduo de São Francisco, vejamos este grande trabalho (sofrimento) que Francisco de Assis teve por causa desta bendita Regra, aprovada e depois, sucessivamente, selada (com bula) por Honório III e aprovada antes por Inocêncio III.


A primeira coisa: Francisco — ontem dissemos — não dissemos a data — em 1205 teve aquela visão do crucifixo de São Damião, que aconteceu pouco depois daquela visão do palácio e da Esposa mais bela. Em 1206, segundo as fontes — que devem ser tomadas com cautela, pois mesmo para os autores da época era difícil lembrar as datas — há, portanto, algumas incongruências que podem ocorrer ao narrar os fatos históricos.

Em 1206 ele deixa tudo e começa este estilo de vida. Depois de três anos, por volta de 1209, ele já está junto com 11 companheiros, a começar por Bernardo, que deixou tudo, vendeu tudo, e outros que o seguiram. Todos os 11 vão ao Papa.

Naquele tempo havia este poderoso, glorioso, sábio Papa — era Inocêncio III — aquele que fez o dogma da transubstanciação, isto é, de que a Eucaristia se transforma no corpo e sangue de Cristo. E é assim: é um dogma.

Este Papa poderoso, vendo estes 11 fradezinhos junto com Francisco — Francisco não estava barbeado, como talvez eu esteja hoje — estava um pouco com os cabelos desalinhados, com o hábito um pouco sujo, porque tinham ido a pé de Assis até Roma, a São João de Latrão.


Nesse então, São Pedro não ficava onde está agora, mas em São João de Latrão, que ainda hoje é tecnicamente a capela do Papa. E quando Inocêncio III vê apresentar-se diante dele esses onze fradezinhos, enviados pelo bispo de Assis e por um cardeal, ele fica tomado por indignação e diz: “Mas tu pedes a nós que aprovemos a tua regra? Este estilo de vida tu deves pregá-lo para aqueles como tu, para os porcos”.


O primeiro espinho que São Francisco recebeu, ele que amava tanto o Papa, veio diretamente do próprio Papa. E então, vejam que ato de humildade ele faz, ele diz: “Está bem, senhor Papa”. Inclina-se e obedece. Parte com seus companheiros, com seus fradezinhos, e vai; com dificuldade, mas consegue encontrar um grupo de porcos, e se joga no meio da lama e se revira entre os porcos. Depois — dizem algumas fontes franciscanas — ele volta ao Papa, e o Papa sente compunção, porque Francisco diz: “Senhor Papa, eu fiz, obedeci ao que o senhor me disse; agora me aprove a regra.”


De um lado há essa versão; de outro, outras fontes explicam um pouco melhor: entre esse espinho que ele recebeu do Papa, ele foi entre os porcos e depois foi também ao hospital. Enquanto isso, o Papa Inocêncio III teve dois sonhos que o fizeram mudar de ideia imediatamente. O primeiro foi um sonho claro, no qual ele se via deitado na cama, e aos seus pés brotava uma palmeira que crescia e se tornava lindíssima. E ele intuiu que talvez pudesse ser aquele fradezinho que ele tinha visto — tão pequeno — e que depois se tornava grande, como no Evangelho de hoje. "Quem se faz pequeno como esta criança torna-se grande". Francisco se fez realmente pequeno — humilhou-se a fundo — à imagem de Jesus, e, segundo Bento XVI, tornou-se o maior de todos os santos até hoje, exceto, é claro, São José, etc.


Depois disso, teve outro sonho, claríssimo. Inocêncio III tem um sonho em que vê a basílica de São João de Latrão prestes a desabar, e — dizem as fontes — um frade de aparência humilde e pequena que sustenta a igreja de São João de Latrão, impedindo que caia. E ele compreende que aquele homem seria o homem justo para que a Igreja de São João de Latrão — isto é, toda a Igreja Católica — não desabasse em meio às pomposas pregações da Idade Média e à falta de prática. Havia uma divisão total. Palavras, palavras, palavras — como diz aquele filme Irmão Sol e Irmã Lua, de Zeffirelli — palavras, palavras, palavras, dizia Francisco, um pouco como naquela canção que conhecemos.


Então o que faz o Papa? Depois desses dois sonhos, manda chamar aquele fradezinho, e o encontram nos hospitais, pregando, todo sujo. O fazem vir, o fazem lavar, e o Papa está pronto para aprovar sua Regra. Mas não era só o Papa — havia também o colégio dos cardeais. Então colocam Francisco ali com seus fradezinhos diante de todo o colégio dos cardeais. E todos esses cardeais eram contrários, dizendo ao Papa que Francisco não podia viver aquele estilo de vida, porque era duro demais e impossível de se viver.

Então o cardeal de Sabina — dizem as fontes — homem verdadeiramente amante da santidade e dos pobres de Cristo, ficou indignado e explodiu diante de todos, dizendo:


“Atenção!” — e dirigindo-se também ao Papa — Atenção! Se nós dissermos a estes fradezinhos que não é possível viver este estilo de vida, que é o Evangelho, nós corremos o risco de blasfemar contra o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porque, se dissermos que há algo de irracional naquilo que eles querem viver, então somos culpados de blasfêmia.


O Papa, colocado diante dessa frase inspirada do cardeal de Sabina, disse: "Muito bem, Francisco. Vai, e que o Senhor nos mostre a Sua vontade por meio de ti". E então Francisco lhe explica algumas coisas, e a história continua com o período posterior à aprovação da Regra. Ele é aprovado oralmente, portanto o Papa lhe dá o seu placet (seu “de acordo”), e finalmente faz com que ele receba uma pequena tonsura — aquele corte no alto da cabeça — que era o sinal de pertencimento ao clero. Em vez de ter o clergyman, eles tinham a tonsura aqui. E o Papa o envia, dando-lhe permissão para pregar — a ele e aos seus onze companheiros.


Então eles partem, e Francisco começa a enviá-los para a Hungria, depois para a Alemanha e para os países limítrofes da Europa. Mas depois de um tempo — quem já fez a experiência sabe o que isso significa — os frades voltam entristecidos a Francisco e dizem: «Francisco, assim não é possível pregar! Não dá, porque tanto o clero como várias pessoas do povo nos dizem: "Sim, vocês dizem que o Papa aprovou vocês, mas onde está escrito isso?". E então Francisco entende que isso os impedia de evangelizar, pois havia desconfiança de que fossem hereges. Por isso, ele vai ao cardeal Ugolino — que naquela época era, de certo modo, seu anjo da guarda — e lhe pede que vá falar com o Papa. Dessa vez o Papa era Honório III, porque Inocêncio já havia morrido, e pede que o Papa aprove a Regra por meio de uma bula, isto é, por escrito, o que já havia sido aprovado de modo oral.


Então o cardeal o leva ao Papa, e o Papa lhe diz — com muita paternidade, segundo as fontes — que há algumas coisas que precisam ser retocadas. E Francisco responde: “Não, Santidade, não é possível, porque esta Regra foi-me ditada diretamente por Jesus Cristo”.

E o Papa diz: “Mas nós não vamos mudar o sentido, só ajustar um pouco a casuística”. Ou seja: “Como se faz, por exemplo, se há frades doentes? Como eles vão andar por aí sem nada — sem pão, sem ouro, sem prata, sem coisa alguma — em viagens longas? Como farão esses frades doentes? Isso precisamos modificar”. Francisco responde: “Não, Santidade, não se pode modificar”. E o Papa lhe diz docemente: “Não te preocupes, Francisco. Não devemos tocar o sentido, mas precisamos fazer isso”. O cardeal lhe repete a mesma coisa, tentando fazê-lo entender: “Francisco, se queres que a Regra seja aprovada e selada com a bula, deves fazer como o Papa diz”.


Mas Francisco entra em crise, porque havia dito — ao Papa, ao cardeal e também aos seus fradezinhos — (como está escrito na Regra não bulada): “Esta Regra foi-me ditada diretamente por Jesus Cristo, e assim até o fim dos tempos, não se tocará nem sequer uma vírgula”. Por isso, Francisco se angustia: “O que direi agora aos meus fradezinhos? Que se deve mudar a Regra porque o Papa Honório III, diferente de Inocêncio, me manda alterar esta norma?”. Essa norma estava em um dos capítulos da antiga Regra — aquela não bulada, que tinha 24 capítulos.


E então, o que ele faz? Segundo vocês, o que teriam feito no lugar de Francisco? Um belo problema, esse — e grande — porque ele perdia toda a credibilidade. "Se foi Jesus Cristo quem me falou, se o Papa aprovou, não se deve mudar nem uma vírgula". Agora ele tem de dizer aos seus frades que, para obedecer à Igreja, precisam mudar alguma vírgula.

E então ele faz uma coisa… isso mesmo, brava Carmela! — ele se põe a rezar. Reza, e Francisco tem um sonho. Vejam como o Senhor — não só a São João Bosco, mas também a São Francisco — a vida inteira de Francisco de Assis está cheia dessas manifestações interiores, mas sempre interpretadas na Igreja, com a Igreja e sob a Igreja.


Então, Francisco tem outro sonho, contam as fontes franciscanas. E nesse sonho, desta vez, Francisco caminha pela estrada e vê algumas migalhas de pão no chão; ele as observa, e uma voz do alto lhe diz: “Francisco, recolhe essas migalhas e faz delas uma só hóstia — e essa hóstia é a tua Regra. Dá-a de comer a quem tem fome”.

Francisco acorda, mas não entende o que o sonho quer dizer, e fica novamente perturbado — como Maria, que após o anúncio ficou perturbada — e pede orações aos seus frades: “Rezai para que o Senhor me mostre o que quer dizer, porque não entendo”.


Depois dessa oração, Francisco compreende que deve sintetizar, não mudar, mas sintetizar a Regra, passando de 24 capítulos para 12 capítulos. Ou seja, devia resumir; e ao resumir, o capítulo que causava o problema ele explica entre parênteses, dizendo que: “Quando os frades, como Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou, forem sem nada — sem ouro, sem prata, sem bolsa, etc. —, isso não se aplica no caso dos frades idosos ou doentes”.


Então, revêem juntos essa Regra com o cardeal Ugolino, a levam ao Papa Honório III — o mesmo que aprovou os carmelitas, franciscanos, dominicanos e outras duas ordens — e finalmente a Regra é selada com bula, e o problema se resolve.

Vede: todo problema, se há oração com sinceridade, o Senhor concede graça e glória, como diz o Salmo 83, e não recusa o bem àqueles que caminham com retidão.


Então, sigamos em frente. Depois que ele termina essa Regra junto com o seu vigário na comunidade, o que faz o vigário, depois que Francisco acabou de ditar a Regra — que, como ele dizia, lhe fora inspirada por Jesus? Perde a regra.


Francisco, mais uma vez, pega essa Regra — antes de ser aprovada oficialmente — e a dita novamente, faz com que seja reescrita, pois a sabia toda de memória. E finalmente chega a aprovação dessa Regra, que se chama Regra Bulada. Dessa vez estamos no ano de 1223, no dia 29 de novembro de 1223.

As fontes franciscanas dizem que, entre a primeira aprovação (a não bulada) e esta bulada, passaram-se 11 anos, mas na verdade, se olharmos bem as datas que também as fontes nos indicam, Francisco teve a Regra aprovada oralmente por Inocêncio III em 1209, mas a Regra selada com bula é de 1223. Então, quantos anos se passaram? Catorze anos. As fontes dizem, umas 11, outras 14 — e entende-se o motivo: quem vive muitas experiências, com o passar do tempo pode se esquecer de alguma data e acabar escrevendo algo que não seja totalmente exato.


Além dessa Regra bulada, o que faz Francisco? Como ainda havia algo em seu coração que compreendia o motivo do Papa — pois ele sabia que o Papa agia pensando também nos fracos —, ele escreve um anexo, que é o Testamento, e diz a todos os seus frades que, junto com a Regra, que deviam sempre levar consigo, deviam também acrescentar esse anexo. Esse anexo se chama Testamento.


Depois, ele faz também uma pequena regra especial para os eremitérios: nessa regra, ele mandava dois frades fazerem o papel de “mães” e dois o de “filhos”. As “mães” eram as Martas, e os “filhos” eram as Marias — porque as mães preparavam o alimento e cuidavam de tudo, e os filhos eram aqueles que deviam crescer.


Chegando à conclusão: o que diz essa Regra bulada? Ela aprova simplesmente esses 12 capítulos, mas como é protegida essa Regra — visto que sempre havia aqueles que não amavam Francisco nem a pobreza de Cristo? Ela é protegida com duas partes que servem como escudos.

Assim, há: uma primeira parte, que é a introdução da Regra bulada, depois, o texto da Regra de Francisco, que começa com “Em nome do Senhor”, após os 12 capítulos, vem a parte final da bula, que é particularmente forte. A primeira parte da preparação da Regra bulada, com a bula que se chama Solet Annuere:


“Honório, bispo, servo dos servos de Deus, aos amados filhos de Frei Francisco e aos outros frades da Ordem dos Frades Menores, saúde apostólica e bênção. A Sé Apostólica costuma condescender aos piedosos votos e conceder favor benevolente aos honestos desejos dos que pedem. Portanto, amados filhos no Senhor, nós acolhemos vossas piedosas súplicas, e vos confirmamos, com autoridade apostólica, a Regra do vosso Ordem, aprovada pelo nosso predecessor Papa Inocêncio III, de boa memória, aqui transcrita, e a valorizamos sob o patrocínio deste documento".


A Regra é esta, diz 12 capítulos, e termina com esta frase forte:


“Portanto, diz Honório III, que ninguém de maneira alguma tenha o direito de invalidar este escrito de nossa confirmação ou de se opor com audácia e temeridade. E se alguém se atrever a tentar, saiba que incorrerá no desdém de Deus Todo Poderoso e de seus bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo. De Latrão, 29 de novembro de 1223, oitavo ano do nosso pontificado”.


Síntese: Eu fiz a experiência, um pouco como Francisco. Francisco é santo; eu estou em caminho, ainda muito em caminho. Mas passaram-se 20 anos para nós, antes de receber a segunda aprovação, e 14 anos antes da primeira.

Essas coisas eu as sinto minhas; o que disse não é apenas porque estudei, esta — é uma tese que fiz em Roma para minha primeira graduação. Esta é a tese sobre a Regra de São Francisco de Assis.


Não pensem que sou “bravo”, é porque fiz a tese, e me lembro de memória. Mas essas coisas acontecem na Igreja: há quem queira viver o Evangelho, e há outros que dificultam, em vez de dizer: “Que belo que há alguém que pode me dar exemplo de como viver melhor o Evangelho nos dias de hoje”.


Que o Senhor, por intercessão de São Francisco e dos anjos, santos anjos da guarda, nos dê a graça de ser pessoas simples, pequenas, humildes como Francisco, mas poderosas e grandes na luz, que dá frutos, como diremos amanhã, ainda depois de 800 anos de vocação, meditação e conversão rumo à vida eterna e à ressurreição do corpo.


Louvado seja Jesus Cristo.


 
 
 

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